CADA ESCOLHA, UMA RENÚNCIA. SERÁ QUE FUNCIONA?

Aquele velho ditado “Cada escolha, uma renúncia” está cada vez mais na moda. Ele tem sido usado como justificativa para pontuar uma série de decisões do nosso dia a dia, como:

  • não comer doces e preferir a barrinha diet de proteínas
  • não se sentar na frente da TV para assistir seriados ao invés de embarcar na atividade física
  • não cair na balada e garantir que você vai acordar disposto para correr uma maratona no dia seguinte às 5h da manhã

Olhando assim, parece muito simples.

Se o seu objetivo é emagrecer, renuncie a tudo que é calórico.

Já se sua meta for ficar malhado, nunca recuse uma oportunidade de se exercitar.

E se é fazer o máximo de atividades em um dia, vá dormir cedo para acordar cedo e descansado.

Mas nem todo mundo que “quer”, consegue perder peso, ficar malhado ou aproveitar o dia com atividades produtivas.

Por que o que parece tão simples não funciona para todo mundo?

São vários os motivos que fazem com que nós, seres humanos, não consigamos fazer tudo “certo” o tempo todo.

Entre eles, temos algumas impossibilidades da vida concreta. Queremos muitas coisas ao mesmo tempo.

Às vezes, não cabe tudo em um lugar só. Como quando queremos comer bolo e continuar tendo o bolo ao mesmo tempo.

Mas não é só uma questão de impossibilidade do tipo desafiar as leis da física.

Também carregamos um tanto de contradições, conflitos e forças borbulhantes dentro de nós que nos empurram por caminhos tortuosos – os quais, muitas vezes, nem conseguimos saber por que os seguimos.

Na psicanálise, chamamos Isso de Inconsciente.

Aquela coisa… aquele troço… um negócio que vem, sobe e angustia, que empurra e desnorteia. 

Apesar de serem processos inconscientes, a responsabilidade sobre eles, até certo ponto, continua sendo nossa. Afinal, são os “nossos” conflitos, contradições e forças borbulhantes. Muitas vezes, não sabemos conscientemente de onde eles veem, mas não é por isso que eles deixam de ser “nossos”.

Por outro lado, sempre é bom lembrar que não funciona a gente ficar se chicoteando para ver se toma jeito. A autopatrulha e autopunição não nos ajudam a reassumir a direção.

A verdade é que a gente não escapa de ter que olhar para os nossos conflitos, contradições e forças borbulhantes. A vida não perdoa nossa autoalienação.  

Eu sei que contradições, conflitos podem parecer bem assustadores; como, por exemplo, quando nos damos conta do nosso desejo de alimentar rivalidades, de triunfar ou de destruir (não se enganem: TODOS NÓS TEMOS ESSES DESEJOS em algum formato!).

Só que reconhecer, mesmo que parcialmente, essas forças internas, é um dos caminhos mais desafiadores e recompensadores da nossa existência.

Claro que não é fácil!

Mas renunciar à torta de morango e preferir a barrinha de chocolate fake também não é.

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