O novo milagre da perda de peso sem esforço?
Temos mais uma novidade chegando ao mercado de emagrecimento: um novo remédio chamado Mounjaro (baseado na substância trizepatide), que promete ser ainda mais poderoso do que o Ozempic (semaglutida).
No imaginário de muita gente, o Mounjaro já está criando seu espaço como uma ferramenta para perda de peso em velocidade recorde. E o mercado de medicamentos já se prepara para uma movimentação financeira de escala planetária.
Mas por que será que adoramos os remédios para emagrecer?
Tentar perder peso – e, mais ainda, manter o peso perdido sem reencontrá-lo – estão entre as tarefas mais frustrantes para quem tem alguma preocupação (de saúde ou estética) em relação a forma do próprio corpo.
É muito trabalho, muito empenho, muito controle, muito descontrole e muita frustração!
Por isso, remédios que prometem ajudar na perda de peso – funcionem eles ou não – sempre causam peregrinações até a farmácia mais próxima.
O fascínio é tamanho que, com frequência, ouvimos notícias sobre problemas de abastecimento. A indústria não dá conta de manter as farmácias abastecidas dadas as enormes quantidades comercializadas!
E a responsabilidade não é só dos usuários dos remédios.
Somado à frustração dos que tentam emagrecer, também temos a frustração dos profissionais de saúde.
Médicos, nutricionistas, educadores físicos… muitos profissionais – que conhecem todos os riscos associados com o sobrepeso – sentem que, para salvar qualquer alma de um destino obeso, é urgente resolver o problema do suposto excesso de peso.
Ou, quando o peso não é problema, é resolver os resultados de exames que indicam muito açúcar ou muita gordura no sangue.
E quem vai se atrever a dizer que peso, açúcar e gordura não são o problema?
É verdade que é difícil perder peso. Também é verdade que excesso de peso está associado a maiores riscos para a saúde.
Porém, peso e comportamento alimentar não existem isolados.
Peso e comportamento alimentar são também sintomas ou resultados complexos de hábitos e escolhas difíceis.
E nem sempre sair correndo atrás da mais nova opção de emagrecimento vai nos fazer mais saudáveis ou mais confortáveis com a nossa aparência ou mais estáveis emocionalmente.
Quando estamos frente à frustração, no entanto, é muito tentador abraçar soluções simples para problemas complexos.
Uma notícia sobre um remédio supostamente milagroso e lá estamos nós na fila da farmácia, desembolsando muito dinheiro para terceirizar nosso autocontrole para outra instância que não nós mesmos.
Fazemos isso, mesmo que essas soluções corram o risco de criar outros problemas. Mesmo que os remédios tenham efeitos colaterais preocupantes. Mesmo que os parâmetros de segurança não sejam encorajadores.
Um aviso: eu não estou demonizando os remédios para emagrecer! Eu acho que é justificável utilizá-los em diversas condições e que eles fazem um papel importante quando bem indicados.
A minha recomendação não é nunca recorrer a esses remédios.
O que me parece mais importante é:
- Reconhecer que remédios sempre implicam riscos, custos e efeitos colaterais.
- Saber que temos relações complicadas com comida, peso e aparência.
- Ter notícia de que peso e insatisfação com a aparência podem ser sintomas de enroscos emocionais mais profundos.
- Ser informado de que o mais difícil não é encontrar uma dieta que funcione no curto prazo ou um remédio que controle o apetite, mas sim encontrar um jeito de viver onde caibam nossas inseguranças, preocupações com a saúde e dificuldades com a aparência.
Encontrar um jeito de viver melhor com as nossas limitações e angústias não é algo que pode ser comprado com dinheiro, nem vai movimentar a indústria farmacêutica.
Mas uma vez alcançado, ninguém vai poder tirar isso de você. O recurso será seu e não terceirizado.